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Reflexos


A única face que jamais conheceremos é a nossa própria.
Podemos nos conhecer de reflexos em espelhos e fotos.
Nunca nos vimos cara a cara.
“É no reflexo dos olhos da mãe que nos vemos pela primeira vez”.
É no reflexo de todas as nossas relações que construímos o nosso próprio senso, “quem” somos.
Mas constantemente esquecemos essa condição de dependência.
Os espelhos nos enganam, pois frios e vazios, só mostram a nossa vaidade envelhecendo no tempo. Na verdade só conversamos com eles quando não queremos respostas.

Nossas relações também enganam, ou se enganam devolvem um reflexo que passa pelos seus critérios, seus valores, suas limitações e depois de um tempo, acabamos dependentes delas.
Influenciados criamos uma identidade própria que enganamos a todos e até a nós próprios, mas não nossa mãe. Ela tem um filtro no coração que apaga o tempo, e recupera a inocência.
Ela nos mostra a criança, que realmente é o que sempre fomos se despido de outros reflexos.
Seria maravilhoso, se não fosse utópico, se quebrássemos os espelhos, tampássemos ouvidos, e agíssemos focados nos olhos de nossas mães.


Comentários

  1. A vida é uma professora dura, porém, muitas vezes insistente e realista.

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  2. O texto me fez lembrar do psicanalista francês Eugene Enriqués, que diz que só existimos como indivíduos pelo olhar da mãe. É através desse olhar que nos tornamos o que somos.

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cansei de estar so

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