Ainda ontem eu era criança e via o mundo do tamanho da minha casa, e a vastidão era o meu quintal. Quando comecei a dominar todo esse espaço, percebi que ele havia crescido, agora tinham as casas vizinhas do outro lado da rua, depois o bairro e assim eu percebi que, apesar de conhecer e dominar esses espaços, eles continuavam a crescer e me desafiar. No inicio era interessante, os espaços traziam outras dimensões, o Conhecimento, a Tecnologia, o Relacionamento, os Valores. , e eu tinha tempo para acompanhá-los.
Mas a velocidade de expansão se acelerou, encurtando o mundo e eliminando o tempo; o que era simples ficou mais rápido, porem muito mais complexo. Agora eu faço mais rápido, mas tenho muito mais coisas a atender; estou sufocado pela rotina.....
E a expansão continua indiferente ao meu limite. Então uma angustia me tomou de repente: até onde, até quando esses contornos vão continuar a me pressionar? Quando terminarão? Atendo a rotina ou percorro o contorno?
Agora adulto vejo que a rotina venceu e o contorno estacionou. Com tanta coisa me preocupando, eu me sinto ilhado. Tantos assuntos e problemas entraram em minha vida que eu acabei me enclausurando nesse pequeno lugar em vez continuar a caminhar e explorar o espaço.
A extensão continua a acontecer, mas não mais a sinto, não ha tempo para observá-la.
Outras figuras entraram em minha vida, ampliando ainda mais os espaços, colocando novas dimensões. Mas, como os problemas também aumentaram, eu continuava na ilha.
Com eles esqueci as pessoas e a mim mesmo. Deixei de observar o contorno para ficar só com os problemas.
Foi quando a ilha implodiu e virou um ponto, um ponto de interrogação, que eu percebi que para reverter essa situação e retomar o horizonte, teria que buscar outras formas. A solução foi, então, voltar para dentro de mim, onde a dimensão é infinita e o meu domínio também, pois ali o espaço é todo meu.
A alegria foi imensa ao percorrer esse interior, me ver recomposto e sentir o poder do controle; verificar que eu não preciso ganhar a corrida, só preciso acompanhar a expansão naquilo que me ajudar... mas havia um contra ponto: a solidão.
A solidão de não poder compartilhar, me fez de novo olhar para fora e reassumir o que tinha deixado. A diferença, entretanto, é que agora fortalecido pelas conquistas internas ficou mais fácil lidar com os problemas, priorizá-los e conseguir tempo para contemplar a vastidão.
O que me dei conta é que é necessário primeiro se potencializar para descobrir, é necessário se estruturar para desfrutar e principalmente, estar consciente de que eu não preciso conhecer e saber tudo, pois eu não vim para salvar o mundo, só preciso cuidar de mim.
Quando adolescente escrevi uma historinha em que eu estava preso à uma casca de ovo, um universo bastante limitado, ficando sujeito aos movimentos do ovo e a sua própria fragilidade.. Talvez simbolicamente o útero. O seu texto mostra o indivíduo saindo de sua casca de ovo até um universo mais amplo com toda a sua complexidade. Estou reformando a casa que era dos meus pais em São Caetano e fico lembrando dos espaços. Parecia tão grande, uma imensidão. No fundo vemos o mundo de acordo com o nosso tamanho físico e mental. À medida que crescemos mentalmente vamos ampliando o nosso mundo interior. A maioria das pessoas ficam presas em seu mundo subjetivo e não conseguem sair de sua casca de ovo. As religiões parecem ter a função de limitar nos horizontes ao nos prenderem aos dogmas inflexíveis. Com as viagens espaciais, vai ficando cada vez mais difícil criar esses limites para os seres humanos.
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