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O dia em que o mundo parou


Eu nem me espantei, minha memória congelou, pois o passado acabou quando ao presente se juntou.
Meus pensamentos secaram quando o futuro para o presente migrou.
Fiquei sem história, sem razão, sem rumo para prosseguir.

Estático, não havia mais o dia e nem a noite, só penumbra.
Não se via rostos, só sombras, nem corpos só siluetas.
O amor que é feito de saudade e esperança acabou, e um grande vazio se instalou, nem o ódio, feito de lembranças perdurou.
O ciúme, a inveja, que se alimentam das vaidades e das comparações, sucumbiu.

A verdade tão desejada finalmente reinou, pois o mundo da certeza, da imobilidade, se implantou, implacável, incontestável.

Tudo revelado, nossos sonhos se findaram, acabou a magia e com ela nossa existência.
Com a imortalidade presente e a eternidade consciente não havia mais nada a fazer e nem mesmo rezar.

Desesperado, sufocado e de sobre salto, acordei, a aos céus brindei, dando graças a linha do tempo que prossegue, apesar de nossos abençoados protestos.

Comentários

cansei de estar so

A verdade nua e crua

Um conto antigo “A verdade saindo do poço” nos conta, resumidamente, que a verdade e a mentira se despiram para banhar-se num poço. Sorrateiramente a mentira saiu, sem que a verdade percebesse , vestiu as vestes da verdade e sumiu. Quando a verdade saiu do poço ficou nua e crua, pois se recusara a vestir as roupas da mentira. Mas na realidade quem veste a mentira são as pessoas, quem conta pela primeira vez, sabe que é mentira, mas as pessoas com o desejo de que aquela mentira seja verdade a disfarça e a alimenta. Dizer que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade é exatamente a manifestação desse desejo. A mentira permanece, e o desejo se concretiza. Como no mundo as aparências predominam, as vestes, o melhor os desejos escondem a mentira para que só se perceba a crosta que a encobre. O emissor é esquecido, o conteúdo é diluído ao longo do trajeto e as vestes se fortalecem com novas camadas e assume o conteúdo, o desejo é sempre o elemento mais forte de realidade. A

Mancha d´agua

Magoa é um vaso quebrado que se pode colar, mas não se recompõe o original. Toda tristeza guarda no peito de quem sofre uma magoa que se apaga, mas não se dissolve, é como uma mancha d’água. É só uma pequena lembrança da causa e ela se instala novamente. O que fazer para minimizar seu efeito? O remédio é a substituição, sim substituir os elementos da causa por algo maior que cubra a marca tornando-a invisível. É bem conhecido que: para curar a perda de um amor é substituir por outro.   Mas esse outro terá que ser maior , que roube o impacto do antigo, que inverta o sentido do outro. É cobrir, colando um adesivo, costurando uma nova estampa. Bordando um novo desenho. Afogar as magoa. T ambém não resolve , elas boiam. Tem que ser algo para fixar no fundo, uma ancora. É cobrir um passado que incomoda, com um novo desejo, uma nova esperança. A esperança cria expectativa, cobre com um manto o rancor, apaga a tristeza, esvazia o sentimento de perda que a acompanha. A