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Ciume


Ciúme é um ciclo, começa com o amor, que se transforma em posse, posse que termina por possuir o ciumento.
No inicio é a admiração, depois o envolvimento. A admiração vira apego, apego é posse.
A posse elimina o respeito, o elemento fundamental da relação e provoca a ruptura do limite individual, é a invasão do alheio.
Mas ao provocar a invasão, a pessoa perde o domínio do próprio limite, perde o próprio referencial, esquecendo-se de si mesma para se dedicar a controlar o outro.

O ciclo agora se volta para ela mesma, pois como não percebe que controlar o outro é impossível, é possuído pelo vício da imaginação.
Um imaginário constante de perda, uma vigília angustiante, uma desvalorização pessoal profunda, uma insegurança que fere que machuca.
É a perseguição da emoção sobre a razão, é a fantasia dominando o senso, é a ação sobre uma falsa realidade.
A posse do possuidor é o fechamento do ciclo, ou melhor, da espiral crescente que se realimenta a cada momento e inferniza continuamente.

“Um pouco de ciúme tempera a relação”, pode até ser verdade, desde que ocasional, desde que reconhecido como tal, desde que passageiro. Mas esse limite tem que ser muito bem administrado, pois como todos os vícios, este também começa ao se sorver pequenas doses.


Comentários

cansei de estar so

A verdade nua e crua

Um conto antigo “A verdade saindo do poço” nos conta, resumidamente, que a verdade e a mentira se despiram para banhar-se num poço. Sorrateiramente a mentira saiu, sem que a verdade percebesse , vestiu as vestes da verdade e sumiu. Quando a verdade saiu do poço ficou nua e crua, pois se recusara a vestir as roupas da mentira. Mas na realidade quem veste a mentira são as pessoas, quem conta pela primeira vez, sabe que é mentira, mas as pessoas com o desejo de que aquela mentira seja verdade a disfarça e a alimenta. Dizer que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade é exatamente a manifestação desse desejo. A mentira permanece, e o desejo se concretiza. Como no mundo as aparências predominam, as vestes, o melhor os desejos escondem a mentira para que só se perceba a crosta que a encobre. O emissor é esquecido, o conteúdo é diluído ao longo do trajeto e as vestes se fortalecem com novas camadas e assume o conteúdo, o desejo é sempre o elemento mais forte de realidade. A

Mancha d´agua

Magoa é um vaso quebrado que se pode colar, mas não se recompõe o original. Toda tristeza guarda no peito de quem sofre uma magoa que se apaga, mas não se dissolve, é como uma mancha d’água. É só uma pequena lembrança da causa e ela se instala novamente. O que fazer para minimizar seu efeito? O remédio é a substituição, sim substituir os elementos da causa por algo maior que cubra a marca tornando-a invisível. É bem conhecido que: para curar a perda de um amor é substituir por outro.   Mas esse outro terá que ser maior , que roube o impacto do antigo, que inverta o sentido do outro. É cobrir, colando um adesivo, costurando uma nova estampa. Bordando um novo desenho. Afogar as magoa. T ambém não resolve , elas boiam. Tem que ser algo para fixar no fundo, uma ancora. É cobrir um passado que incomoda, com um novo desejo, uma nova esperança. A esperança cria expectativa, cobre com um manto o rancor, apaga a tristeza, esvazia o sentimento de perda que a acompanha. A