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A Praia



Esta manhã sentado na areia da praia larguei as preocupações, deixei em casa, passei a observar as pessoas que fixavam o olhar sobre a jovem de cabelos longos, pele queimada pelo sol e pelo sal, olhos cuja cor variava conforme o reflexo do mar e que ao passar deixava marcas definidas no chão.
Uns admiravam, outros invejavam querendo se apropriar de sua beleza.
Anos depois voltei à mesma praia, e lá estava uma mulher andando na areia e lentamente fiquei observando e identifiquei que era a mesma, embora já não irradiasse a mesma beleza, mas duas coisas foram decisivas no reconhecimento.
Os olhos que não envelhecem, porque eles representam a alma e, portanto continuavam a refletir nuanças da cor do mar e as sequencia das pegadas ainda que não tão firmes e em menor ritmo, mas o mesmo andar, o mesmo balanço, porque elas representam a vida, um caminhar.
Olhei na água para ver meus olhos e caminhei na praia para medir meu ritmo, eu envelhecera também.


Comentários

cansei de estar so

A verdade nua e crua

Um conto antigo “A verdade saindo do poço” nos conta, resumidamente, que a verdade e a mentira se despiram para banhar-se num poço. Sorrateiramente a mentira saiu, sem que a verdade percebesse , vestiu as vestes da verdade e sumiu. Quando a verdade saiu do poço ficou nua e crua, pois se recusara a vestir as roupas da mentira. Mas na realidade quem veste a mentira são as pessoas, quem conta pela primeira vez, sabe que é mentira, mas as pessoas com o desejo de que aquela mentira seja verdade a disfarça e a alimenta. Dizer que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade é exatamente a manifestação desse desejo. A mentira permanece, e o desejo se concretiza. Como no mundo as aparências predominam, as vestes, o melhor os desejos escondem a mentira para que só se perceba a crosta que a encobre. O emissor é esquecido, o conteúdo é diluído ao longo do trajeto e as vestes se fortalecem com novas camadas e assume o conteúdo, o desejo é sempre o elemento mais forte de realidade. A

Mancha d´agua

Magoa é um vaso quebrado que se pode colar, mas não se recompõe o original. Toda tristeza guarda no peito de quem sofre uma magoa que se apaga, mas não se dissolve, é como uma mancha d’água. É só uma pequena lembrança da causa e ela se instala novamente. O que fazer para minimizar seu efeito? O remédio é a substituição, sim substituir os elementos da causa por algo maior que cubra a marca tornando-a invisível. É bem conhecido que: para curar a perda de um amor é substituir por outro.   Mas esse outro terá que ser maior , que roube o impacto do antigo, que inverta o sentido do outro. É cobrir, colando um adesivo, costurando uma nova estampa. Bordando um novo desenho. Afogar as magoa. T ambém não resolve , elas boiam. Tem que ser algo para fixar no fundo, uma ancora. É cobrir um passado que incomoda, com um novo desejo, uma nova esperança. A esperança cria expectativa, cobre com um manto o rancor, apaga a tristeza, esvazia o sentimento de perda que a acompanha. A