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A Sombra


Sentado no banco da praça de costas para o sol, com os cotovelos apoiados nos joelhos, pensativo, vi minha sombra projetada no chão e comecei um dialogo surdo com ela.
É fácil ser sombra, não sente frio nem calor, sede ou fome, não ouve nem fala não importa o que aconteça , está indiferente a tudo, não sofre.
É aí que você se engana, retrucou. Eu não tenho independência, não sou livre.  Na verdade eu sou um complemento e com muitas desvantagens. Eu participo de seus sofrimentos sem poder derramar uma lágrima, das coisas boas sem o gargalhar de suas alegrias, de seu sucesso sem ouvir os aplausos. Eu sou companheira e não ouço sua voz.
É um silenciar incomodante, passivo e angustiante. Você ainda se lamenta.
E quando a penumbra se apresenta ela me apaga, eu não mais participo.
Eu nunca estou presente onde o amor se completa.
Levantei depressa em direção à sombra de uma arvore, lá eu sabia que não precisaria dar a resposta.

Comentários

cansei de estar so

A verdade nua e crua

Um conto antigo “A verdade saindo do poço” nos conta, resumidamente, que a verdade e a mentira se despiram para banhar-se num poço. Sorrateiramente a mentira saiu, sem que a verdade percebesse , vestiu as vestes da verdade e sumiu. Quando a verdade saiu do poço ficou nua e crua, pois se recusara a vestir as roupas da mentira. Mas na realidade quem veste a mentira são as pessoas, quem conta pela primeira vez, sabe que é mentira, mas as pessoas com o desejo de que aquela mentira seja verdade a disfarça e a alimenta. Dizer que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade é exatamente a manifestação desse desejo. A mentira permanece, e o desejo se concretiza. Como no mundo as aparências predominam, as vestes, o melhor os desejos escondem a mentira para que só se perceba a crosta que a encobre. O emissor é esquecido, o conteúdo é diluído ao longo do trajeto e as vestes se fortalecem com novas camadas e assume o conteúdo, o desejo é sempre o elemento mais forte de realidade. A

Mancha d´agua

Magoa é um vaso quebrado que se pode colar, mas não se recompõe o original. Toda tristeza guarda no peito de quem sofre uma magoa que se apaga, mas não se dissolve, é como uma mancha d’água. É só uma pequena lembrança da causa e ela se instala novamente. O que fazer para minimizar seu efeito? O remédio é a substituição, sim substituir os elementos da causa por algo maior que cubra a marca tornando-a invisível. É bem conhecido que: para curar a perda de um amor é substituir por outro.   Mas esse outro terá que ser maior , que roube o impacto do antigo, que inverta o sentido do outro. É cobrir, colando um adesivo, costurando uma nova estampa. Bordando um novo desenho. Afogar as magoa. T ambém não resolve , elas boiam. Tem que ser algo para fixar no fundo, uma ancora. É cobrir um passado que incomoda, com um novo desejo, uma nova esperança. A esperança cria expectativa, cobre com um manto o rancor, apaga a tristeza, esvazia o sentimento de perda que a acompanha. A