O espelho
A vida é uma evolução, uma sequencia que se altera entre
episódios corriqueiros e marcantes que vamos descobrindo no tempo.
O tempo é para todos, mas o espelho marca o tempo de cada
um.
Ele logo coloca uma espinha no nosso rosto, mais alem uma barba
ou um batom. Vai pintando de branco os cabelos e colocando rugas nos nossos
rostos....
O espelho nunca mostra o começo e nem vai mostrar o fim, ele
conta os intervalos, com surpresas.
Especialista no cotidiano, mesmos nos vendo todos os dias,
ele não se apaixona, e consegue ser surpreendente. O convívio conosco não o inibe,
nem o constrange, não o intimida e com frieza e sutileza marca nossa passagem
no tempo.
O mesmo espelho pode tratar cada um com episódios diferentes,
e assim mostrar nossa singularidade e nossas diferenças. Estamos todos num
mesmo momento, contando avanços diferentes.
Mas pensei por um momento: É impossível parar o tempo. Mas e
o nosso?
Talvez, se cobríssemos os espelhos e terceirizássemos a
velhice empurrando a contagem de nosso tempo para os outros. Seria uma
vantagem?
Provavelmente não, pois ainda assim, não nos livraríamos da
contagem, passaríamos a contar dos outros e teríamos uma consequência maior, sem
espelho ficaríamos sem rosto para contar nossa historia, ficaríamos vazios e paralisados
no presente.
Esse presente paralisado
nos tornaria repetitivos, vivendo cada instante uma rotina sem uma direção.
Como a historia
passada é sempre quem suporta a esperança, nosso futuro também estaria
comprometido e sem passado e sem futuro a vida é sufocante e desesperadora.
Também não adianta estar no meio dos outros sem uma história
própria. Não se suporta uma relação sem ela. Todos tem que estar completos.
A relação não é um encontro, uma entrevista, que se
extinguem instantes depois, ela é um acontecimento sustentado pelas trocas de
histórias que aconteceram com as pessoas participantes.
Amizade, amor, paixão, devoção, ódio, todos os sentimentos,
são frutos de entrelaçamento de historias que se completam, que se sustentam, que
se enfrentam.
Vendo dessa forma, corri para retirar as mantas dos espelhos
que cobrira, e dei graças ao ver uma nova ruga no meu rosto, minha história
continuava.
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