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AS SOBRAS

 Se as pessoas não se dão de verdade os relacionamentos ficam falsos e não duram.

Normalmente doamos as nossas sobras, o excedente, ou aquilo que não nos serve mais, não tem mais utilidade.

A questão é que muitas vezes fazemos o mesmo com nossos relacionamentos. Não nos entregamos ao nosso parceiro, nem para nossos filhos e amigos.

Nossa presença é vaga. Brincamos com nossas crianças com o celular na mão, distraídos, desviados, uma falsa presença. Visitamos parentes quando sobra tempo, quando não temos outra coisa programada, lembramos de nossos amigos só quando deles precisamos. Nossas reuniões presencias se tornaram falsas, na verdade uma reunião de celulares que nem conversam ente si. Uma presença ausente.

Continuamos doando “esmolas”, saldos, não focamos nossas relações como prioridade dando o melhor de nós mesmos, não interrompemos nada, não invertemos nossas prioridades para encaixa-las, essas ações são as últimas de nossa lista. Alegamos que não temos tempo, uma velha e desgastada mentira, pois ter tempo para alguma coisa é uma questão de prioridade. Não é que não temos tempo, é que não é importante o suficiente para coloca-las nas nossas primeiras prioridades. Quando é importante para nós o tempo aparece.

Veja o quanto valorizamos quando percebemos que alguém interrompe algo para nos dar atenção. Se vale para nós deve valer para os outros.

E mais ainda, a vida moderna, a tecnologia, nos acelerou, encurtou nosso tempo e está consumindo também as nossas sobras, temo que nem elas será possível mais doar, o que torna nosso horizonte de relações preocupante, um campo fértil para psicólogos e psiquiatras.

 

Comentários

cansei de estar so

A verdade nua e crua

Um conto antigo “A verdade saindo do poço” nos conta, resumidamente, que a verdade e a mentira se despiram para banhar-se num poço. Sorrateiramente a mentira saiu, sem que a verdade percebesse , vestiu as vestes da verdade e sumiu. Quando a verdade saiu do poço ficou nua e crua, pois se recusara a vestir as roupas da mentira. Mas na realidade quem veste a mentira são as pessoas, quem conta pela primeira vez, sabe que é mentira, mas as pessoas com o desejo de que aquela mentira seja verdade a disfarça e a alimenta. Dizer que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade é exatamente a manifestação desse desejo. A mentira permanece, e o desejo se concretiza. Como no mundo as aparências predominam, as vestes, o melhor os desejos escondem a mentira para que só se perceba a crosta que a encobre. O emissor é esquecido, o conteúdo é diluído ao longo do trajeto e as vestes se fortalecem com novas camadas e assume o conteúdo, o desejo é sempre o elemento mais forte de realidade. A ...

Reflexos

A única face que jamais conheceremos é a nossa própria. Podemos nos conhecer de reflexos em espelhos e fotos. Nunca nos vimos cara a cara. “É no reflexo dos olhos da mãe que nos vemos pela primeira vez”. É no reflexo de todas as nossas relações que construímos o nosso próprio senso, “quem” somos. Mas constantemente esquecemos essa condição de dependência. Os espelhos nos enganam, pois frios e vazios, só mostram a nossa vaidade envelhecendo no tempo. Na verdade só conversamos com eles quando não queremos respostas. Nossas relações também enganam, ou se enganam devolvem um reflexo que passa pelos seus critérios, seus valores, suas limitações e depois de um tempo, acabamos dependentes delas. Influenciados criamos uma identidade própria que enganamos a todos e até a nós próprios, mas não nossa mãe. Ela tem um filtro no coração que apaga o tempo, e recupera a inocência. Ela nos mostra a criança, que realmente é o que sempre fomos se despido de outros reflexos. Seria ...