Pular para o conteúdo principal

O lado cinza

Se um dia tivermos que ser julgados este não será pelo que fizemos, mas sim pelo que imaginamos, pelos segredos que não quisemos ou não pudemos externar.

A imaginação é quase uma realidade, ou melhor, é uma realidade interna que pode não ter valor pratico, mas tem valor ético, moral, que sempre a acompanha.

É por aí que seremos avaliados, ódio, vingança, ciúme, e quase todos os pecados são desatados, desabafados no imaginário.

Ainda bem que nem tudo que pensamos se realiza, esse intervalo entre o desejo e a possibilidade de realização muitas vezes nos salva de praticarmos algo que depois nos arrependeríamos.

Muitos pensamentos são como um vulcão, coisas guardadas, remoídas se fundem e de repente explodem, trazendo resultados que muitas vezes não esperávamos, se quer imaginávamos.

O lado cinza, o campo neutro onde praticamos esse jogo sem regras, sem juiz, sem leis, esse lugar, um solo aberto sem limites onde podemos vestir todos os mantos da inocência ou da crueldade para realizar nossas fantasias é o local reservado para praticarmos nosso livre arbítrio da concepção, para aplacarmos os desejos da alma e da mente. Realizara-los ou não é indiferente, eles já estão concretos em nossa mente.

Guardados ou praticados são eles que se prestam ao exercício do juízo, pois a decisão de concebe-los é sempre nossa.

Se não realizamos, se não for do tamanho que caiba em nossa realidade, jogamos para a nossa gaveta de frustações. Se forem proibidos, nossa moral é que vai designar o destino.

O que alimenta a imaginação é a nossa história, é o caminho já percorrido, as experiências, as relações, nossos medos, angustias e esperanças.

É num pote com essa mistura que construímos nossos desejos. Mergulhar nesse caldo é da natureza humana e os resultados podem ser surpreendente. O tempo que se permanece nele é que nos diferencia, porque a imaginação é a fuga da rotina escravizante.

A Imaginação é realmente nossa plena liberdade, mesmo que não se queira, mesmo que não se deva.

Comentários

cansei de estar so

A verdade nua e crua

Um conto antigo “A verdade saindo do poço” nos conta, resumidamente, que a verdade e a mentira se despiram para banhar-se num poço. Sorrateiramente a mentira saiu, sem que a verdade percebesse , vestiu as vestes da verdade e sumiu. Quando a verdade saiu do poço ficou nua e crua, pois se recusara a vestir as roupas da mentira. Mas na realidade quem veste a mentira são as pessoas, quem conta pela primeira vez, sabe que é mentira, mas as pessoas com o desejo de que aquela mentira seja verdade a disfarça e a alimenta. Dizer que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade é exatamente a manifestação desse desejo. A mentira permanece, e o desejo se concretiza. Como no mundo as aparências predominam, as vestes, o melhor os desejos escondem a mentira para que só se perceba a crosta que a encobre. O emissor é esquecido, o conteúdo é diluído ao longo do trajeto e as vestes se fortalecem com novas camadas e assume o conteúdo, o desejo é sempre o elemento mais forte de realidade. A ...

Reflexos

A única face que jamais conheceremos é a nossa própria. Podemos nos conhecer de reflexos em espelhos e fotos. Nunca nos vimos cara a cara. “É no reflexo dos olhos da mãe que nos vemos pela primeira vez”. É no reflexo de todas as nossas relações que construímos o nosso próprio senso, “quem” somos. Mas constantemente esquecemos essa condição de dependência. Os espelhos nos enganam, pois frios e vazios, só mostram a nossa vaidade envelhecendo no tempo. Na verdade só conversamos com eles quando não queremos respostas. Nossas relações também enganam, ou se enganam devolvem um reflexo que passa pelos seus critérios, seus valores, suas limitações e depois de um tempo, acabamos dependentes delas. Influenciados criamos uma identidade própria que enganamos a todos e até a nós próprios, mas não nossa mãe. Ela tem um filtro no coração que apaga o tempo, e recupera a inocência. Ela nos mostra a criança, que realmente é o que sempre fomos se despido de outros reflexos. Seria ...